ITINERÂNCIA
21ª BIENAL
DE ARTE
CONTEMPORÂNEA
SESC_VIDEOBRASIL


SESC CAMPINAS
3.12.2020 — 28.2.2021

Georges Senga

Georges Senga

1983 | Lubumbashi, República Democrática do Congo | Vive em Maastricht, Países Baixos

SOBRE | DEPOIMENTO

Fotógrafo, é formado em letras pela Universidade de Lubumbashi. Seu trabalho explora resquícios afetivos em paisagens abandonadas. Participou das bienais de Lubumbashi (2010 e 2015), Bamako (2011 e 2015) e Kampala (2014), e de festivais e exposições em diversos países africanos e europeus, como África do Sul, Etiópia, Espanha e Suíça.


Cette maison n’est pas à vendre et à vendre, a obra que apresento na 21a Bienal, surge de uma experiência pessoal envolvendo a casa de minha família há alguns anos. Um dos meus tios havia comprado uma nova casa para minha avó, e como a família é composta de pessoas ricas e pobres, o lado rico quis vender a casa e o lado pobre quis ficar com ela. Para chegar a um acordo, escreveram na fachada "Esta casa não está à venda". Essa frase corresponde a uma situação real, que é explorada no conflito de heranças em diferentes partes do Congo e da África em geral, para mostrar aos compradores dessas casas que o investimento resultará em perda financeira.

Meu trabalho questiona frequentemente a memória, como é o caso dessa série de fotografias. Em um primeiro momento, questionei o valor da propriedade, através do esforço que os pais fazem para nos oferecer um importante patrimônio familiar que constitui nossa história através das gerações. Também sempre me interessei pelo interior das casas, pois, ao mesmo tempo, ali está nossa própria história e a memória da nossa infância. Esses objetos encontrados dentro das casas têm o mesmo valor que o imóvel em si, portanto a venda dessa casa ou dessas casas é uma questão de memória e de nossas próprias histórias materiais que esvanecem.

Como a situação dos conflitos de herança ocorre em toda parte do mundo, mas se apresenta de formas diferentes, este trabalho tem duas partes, uma no Congo e outra no Brasil. Conheço a realidade dessa situação na África, então me propus a questão de saber como encontrar essa representação fora da África. Escolhi o Brasil por uma razão histórica, relacionada à própria fundação e aos vínculos entre o país e o continente africano. No Brasil, deparei com alguns projetos imobiliários na Praia Grande, que criaram um vínculo direto com a minha experiência no Congo, não por ter encontrado edifícios que não estavam à venda, mas pelo modo como ambos os contextos lidam com seus objetos e sua história pessoal.


Cette maison n’est pas à vendre et à vendre

Cette maison n’est pas à vendre et à vendre

Cette maison n’est pas à vendre et à vendre

2016 | Fotografia; nove trípticos

 

Duas situações de disputa pelo território urbano compõem a série. Em Lubumbashi, na República Democrática do Congo, o fotógrafo se deparou com diversas casas que expõem o recado “Cette maison n’est pas à vendre” [Esta casa não está à venda] pintado de improviso em suas fachadas. Objetos de conflitos familiares causados por disputas de herança, essas casas foram fotografadas por fora e por dentro, registrando as lembranças e o apego dos moradores a suas habitações. Já na cidade de Praia Grande (no litoral do estado de São Paulo, Brasil), em que o cenário urbano está se alterando rapidamente, o fotógrafo registrou fachadas e arredores de casas que estão, sim, à venda. Nesse caso, as memórias e os afetos que os imóveis poderiam evocar, assim como suas paredes, desaparecerão em breve.


 

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