ITINERÂNCIA
21ª BIENAL
DE ARTE
CONTEMPORÂNEA
SESC_VIDEOBRASIL


SESC CAMPINAS
3.12.2020 — 28.2.2021

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas [Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cris Araújo e Pedro Maia de Brito]

Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas [Aiano Bemfica, Camila Bastos, Cris Araújo e Pedro Maia de Brito]

1999 | Brasil |

SOBRE | DEPOIMENTO

Movimento social que luta pela reforma urbana e pelo direito humano de morar dignamente. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) foi fundado em Pernambuco em 1999, mas rapidamente se espalhou por outros estados e hoje possui atuação nacional. É formado por milhares de famílias sem-teto vítimas da ação predatória da especulação fundiária e imobiliária. O MLB atua principalmente por meio de ocupações, visando a reforma urbana.

Nossas relações com o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, o MLB, surgem organicamente a partir de 2013, por meio da militância e da colaboração constante e crescente por parte dos artistas que integram a equipe criativa e técnica desta obra. A tônica de tais relações reside na crença em suas pautas e ações, que têm não apenas a moradia digna e a reforma urbana como objetivos centrais de sua luta, mas também a revolução socialista e, consequentemente, a criação de um outro imaginário coletivo popular.

O filme Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados, exibido na 21ª Bienal, é fruto de um processo de organização e formação que tem em sua natureza a excelência instrumental das palavras. Porém, aqui tratamos de um outro momento desse processo, onde o acamadamento sonoro, fruto das ações corporais concretas, leva-nos, através do não visto, a uma maior compreensão, pela via sensorial, da coisa em questão: é a troca do sentido pelo sentir como caminho aos corações e mentes. Para tanto, debruçamo-nos por cerca de seis semanas sobre o arquivo do MLB a fim de melhor entender as potências estéticas latentes daquela amálgama heterogênea de imagens e sons. A partir de algumas regras impostas ao jogo do arquivo, pudemos identificar primeiro a limitação do material que comporia o filme para, então, moldá-lo como ideia e gesto.

Buscamos aqui encampar um conjunto de proposições a respeito da arte e da política, esculpindo tempo e espaço para falar sobre linguagem e ação, estética e tática. Expandimos a materialidade territorial por meio dos sons e imagens, de maneira que pudéssemos agenciar diferentes corpos-espectadores à circunscrição de uma prática política em um tempo específico dos processos das lutas populares. É um gesto de aproximação – e ruptura dessa aproximação – que entende a experiência estética como presença, para que seja sentida nas entranhas, provocando as potencialidades sensoriais do corpo para a reflexão e a tomada de consciência, produzindo subjetividades ao alargar o escopo do imaginário das ações políticas; porém, entendendo-se como “apenas” um filme e que, portanto, seu papel é o de instigar, promover e chamar para a luta: um conclame!

Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados

Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados

Conte isso àqueles que dizem que fomos derrotados

2018 | Vídeo, 20’40’’

 

À noite, com as luzes da cidade ao longe, dezenas de pessoas saem de uma favela e vão até um terreno de mato alto. Em silêncio e iluminadas por lanternas e lampiões, elas fincam estacas, armam barracas e penduram a bandeira do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas. A câmera trêmula; em primeira pessoa, acompanha e participa da ocupação registrando seus momentos singulares, o passo a passo do ato de ocupar. O título do vídeo é emprestado dos últimos versos do poema “Conte”, do poeta palestino Narjan Darwish, o que aponta para o caráter internacional da luta por território, e também para a sabedoria clandestina e compartilhada da resistência.

 

TOPO