CÂMARA DE ECOS
Foto: ©Acervo Videobrasil / Pedro N. Prata
Este programa toma seu título de Algaravias: câmara de ecos (1996), livro de Waly Salomão que foi uma forte referência para nós no desenvolvimento desta 22ª Bienal Sesc_Videobrasil. Com suas ruminações sobre passagem, autocolocação, geografia virtual, interação entre humanos e eletrônica, consciência poética, mortalidade, o influxo torrencial das comunicações de massa e corporações multinacionais, e as paisagens estéreis, turísticas e militarizadas do espaço e espetáculo modernos, Algaravias pode ser lido como um manual de sobrevivência à era da informação. Aqui, Salomão se bate com uma mistura de desencanto e felicidade em um mundo no qual a distância geográfica se comprimiu, e onde navegamos, em igual medida, pela exposição e pelo isolamento. Nesse sentido, nossa condição contemporânea se vê atualizada na profecia das palavras de Salomão. Da “câmara de ecos”, o poeta nos acena de um futuro em que as distinções entre tempo e linguagem ruíram.
É, em parte, esse esforço de olhar para além do presente esmagador que torna a poesia de Salomão tão revigorante. Em Carta aberta a John Ashbery, o poema do qual o título de nossa exposição foi extraído, ele escreve:
A memória é uma ilha de edição — um qualquer
passante diz, em um estilo nonchalant,
e imediatamente apaga a tecla e também
o sentido do que queria dizer.
Em versos como estes, a mente reconhece a si própria, e a pergunta que não quer calar é: e agora? A resposta de Salomão é despir-se de pretensões literárias, voltar-se para dentro e tornar-se uma “câmara de eco / a substância da própria medula feita citação”. Aqui, aprendemos a escrever com palavras que já temos, de memória.
Quando convidamos o público a entrar na Câmara de ecos da 22ª Bienal, estamos falando de um espaço físico e metafórico no qual ideias, conversas e proposições reverberam e se amplificam. Nesta edição, que também celebra o 40º aniversário do Videobrasil, os Programas Públicos conjugam o desejo de fazer ressoar temas e questões que emergem da exposição que se espalha pelo Sesc 24 de Maio e de refletir sobre o legado do evento e as diferentes gerações de artistas que o compõem, do Brasil, do Sul Global e do mundo.
Enfatizando a colaboração e a citação — à maneira de Waly Salomão —, apostamos em propostas e ativações que possam promover integração entre diferentes perfis e gerações de públicos, convidados e equipes envolvidas na realização da exposição. Alicerçando-nos em proposições que permitam encontrar pontos de entrada para os legados da produção artística, do ativismo e da prática coletiva de gerações anteriores (e futuras) que ressoam até hoje, buscamos expandir o pensamento em torno de estratégias e histórias coletivas.
Convidamos todos a visitar o espaço da exposição Especial 40 anos, no quarto andar, e a entendê-lo como um importante ponto de reverberação da Bienal. Ali, reunimos referências, dispositivos e ferramentas que oferecem formas alternativas de fruição e participação. Refletindo sobre o legado de quarenta anos do Videobrasil, abrimos este espaço como um lugar de aprendizagem e troca entre gerações, linguagens e temporalidades.
Renée Akitelek Mboya,
curadora dos Programas Públicos