Alberto Guarani
1983 | Aldeia Porto Lindo-MS, Brasil | Vive em Tanguá-RJ, Brasil
SOBRE | DEPOIMENTO
É cineasta e educador. Oriundo da etnia Guarani Nhandewa, dedica-se ao audiovisual desde 2010. Concluiu a licenciatura em formação intercultural de professores indígenas pela UFMG, participando também de diversas oficinas sobre direção, roteiro e montagem de cinema nesta mesma instituição. Seu trabalho é formado por diversos documentários em torno das questões indígenas, com particular interesse na pesquisa sobre o povo de origem do artista. Trabalha a partir do Laboratório do Filme Etnográfico da UFF, do Museu do Índio da FUNAI, e do Observatório da Educação Escolar Indígena da UFMG. Participou do 19º e do 21º Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte (2015 e 2017), Mekukradjá – Círculo de Saberes de Escritores e Realizadores Indígenas, Itaú Cultural, São Paulo (2016), entre outros eventos.
Hoje, entre a região Sul e Sudeste e o Mato Grosso do Sul, venho realizando o trabalho de filmagem junto com o meu povo Guarani Mbya, Nhandeva e Kaiowá para o fortalecimento da nossa oralidade através da gravação, guardando as narrativas, cantos, rezas e as belas palavras dos mais velhos. Essa atuação, transversal e interestadual, é muito importante para nós, Guarani, quando alcançamos e levamos o conhecimento através das imagens que captamos às sociedades não indígenas, para mostrarmos um pouco da nossa cultura e do nosso modo de pensar sobre a maneira de viver a verdadeira Teko (Vida) Guarani.
Como sou graduado
em educação intercultural, articulo, desde 2013, projetos tanto de cultura
quanto de educação, assim também trabalhando na formação de novos cineastas
entre os Guarani. Cada aluno é uma semente e cada semente dá o seu fruto,
assim, aos poucos, alcançando a sabedoria e a força dos mais velhos a partir
dos registros de nossa memória, língua e história.
Atualmente, o cinema Guarani é uma ferramenta importante para as comunidades na luta pelo direito, reconhecimento e valorização do nosso modo de viver. A mídia, na maioria das vezes, nos representa de forma estereotipada e romantizada. Quando invertemos, porém, o ponto de vista da câmera e produzimos nosso próprio registro, transmitimos ao mundo nosso olhar. Deixamos de ser “caça” e nos tornamos caçadores. Nós, Guarani, resistimos e lutamos desde o ventre de nossa mãe. Por isso, quando comecei a filmar optei, então, por começar pelo silêncio, escutar o que não me era dito. Seguindo o tempo dos pássaros, via-me eternizando o tempo, guardando vozes e silêncios, ao encontro da sabedoria das pessoas. As imagens não se renovam e não envelhecem, e a sabedoria registrada, guardada no filme, com o tempo não será esquecida. A câmera é como um segundo olho, um segundo ouvido, ela não é apenas uma guardadora de imagem, ela é um dos Guardiões da Memória.
Hoje, como tenho alguns equipamentos, muitas vezes faço documentários sem recursos; porque fazer o filme para a comunidade é diferente de fazer o filme para o mercado. Temos alguns projetos, como o lançamento de um longa feito em abril de 2019 sobre um dos nossos grandes sábios, falecido em 2016, O Último Sonho. Também temos o projeto de captar um filme na tríplice fronteira, Yvy Pyte (Coração da Terra), porém ainda sem recursos.
Guardiões da memória
2018 | Vídeo, 55’
Realizado em cinco aldeias Guarani do estado Rio de Janeiro, o filme mostra como os membros mais velhos e lideranças dessas comunidades fazem circular o conhecimento e a memória nos Tekoa através de suas rezas, narrativas e rituais religiosos por gerações a fio. Assim, a obra compõe um retrato etnográfico baseado num olhar intimista e solidário.