9.10.2019—2.2.2020
SESC 24 DE MAIO,
SÃO PAULO PT EN

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Julia Mensch

Julia Mensch

1980 | Buenos Aires, Argentina | Vive entre Buenos Aires e Berlim, Alemanha

SOBRE | DEPOIMENTO

Artista visual. Formada em artes visuais na Universidad Nacional de las Artes, Argentina. Trabalhando na interseção entre texto, instalação, eventos públicos, fotografia, vídeo e palestras, a artista investiga repercussões pessoais de temas históricos e coletivos, como a utopia comunista, o voto feminino e o modo de produção agroindustrial. É integrante do coletivo Palatti, composto por artistas de vários países, que desenvolve projetos e ocupações ao redor do mundo. Expôs em individuais na Alemanha, Argentina, Chile, Eslováquia, Suíça, Ucrânia e Uruguai.

 


Tanto a biografia quanto a autobiografia são centrais na minha prática. Meu interesse é assumir a experiência de pessoas comuns como ponto de partida (e também a minha própria) para me relacionar e para refletir sobre conflitos políticos e sociais, históricos ou contemporâneos.

Meu trabalho La Vida en Rojo  surgiu da necessidade de entender meu próprio passado para construir minhas próprias ferramentas enquanto representante de uma geração para agir no presente. Revolução, utopia e militância foram universos fundamentais do meu ambiente desde criança. Lembro de saber a palavra revolução, sem entender completamente seu significado. Foi necessário para mim passar por diferentes geografias e conflitos políticos, centrais na história do socialismo e do comunismo – e também da minha história familiar – para desconstruir e repensar esses conceitos. A revolução pela qual meus avós lutaram tinha uma cor, um manifesto, um partido. Acredito que hoje em dia talvez não sejam mais apenas uma, mas diversas revoluções e utopias, multiplicando-se em diferentes formas, em vez de uma única, vertical, supostamente homogênea. Aparentemente, talvez não assumam a forma de uma rebelião em um único momento do tempo, mas, sim, cresçam silenciosamente com o tempo, criando novas alternativas ao sistema capitalista.

Como um de meus principais interesses, os arquivos compostos de documentos pessoais, anotações e fotografias têm potencial para abrir diferentes narrativas sobre a história recente, capazes de estender ou contradizer a narrativa histórica predominante. Ler memórias políticas recentes em uma carta, em um pequeno bilhete, em um livro com passagens sublinhadas nos leva à possibilidade de nos relacionarmos com nossos próprios atos e nosso contexto político para repensar o presente que estamos criando com nossas decisões e atitudes, que podem parecer pequenas ou insignificantes. Mas elas estão criando a história do nosso futuro, mesmo que não nos demos conta disso. A questão é: que futuro e que história do futuro queremos criar?


La Vida en Rojo

La Vida en Rojo

2016-2018 | Vídeo, 21’50’’

 

Como se projetasse fotos de uma viagem, a artista percorre as memórias de três gerações de sua família, marcada pela militância no Partido Comunista argentino. A narração contextualiza e questiona imagens da casa de seus avós, slides da viagem de seu avô pelo bloco soviético nos anos 1970, cartas e fotografias. Mais do que uma coleta de objetos pessoais ou uma história da esquerda argentina no século XX, o filme se apresenta como um ensaio sobre o lugar da utopia perante os fatos, as urgências e estratégias políticas e o convívio afetivo entre as pessoas.

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