Clara Ianni
1987 | São Paulo-SP, Brasil | Vive em São Paulo-SP
SOBRE | DEPOIMENTO
É artista visual, bacharel em artes visuais pela Universidade de São Paulo (2010) e mestre em visual and media anthropology pela Freie Universität, Berlim, Alemanha (2013). Em seu trabalho, investiga as relações entre arte, política e ideologia, e suas implicações históricas, com frequentes reflexões sobre as contradições do processo de modernização brasileiro. Transitando entre vídeo, instalação, objeto e site-specific, questiona os discursos históricos hegemônicos, explorando suas zonas de invisibilidade. Participou das bienais de Jacarta (2015), São Paulo (2014), e Istambul (2011), além das exposições Utopia/Distopia, MAAT, Lisboa (2017); Talking to Action, LA/LA, EUA (2017); e do 33º Panorama da Arte Brasileira, MAM, São Paulo, (2013), entre outras.
O vídeo Do Figurativismo ao Abstracionismo (2017), mostrado no 33º Panorama da arte Brasileira, no MAM-SP, é fruto de um processo de pesquisa iniciado nos arquivos da Bienal, que tem os registros do Museu de Arte Moderna de SP. Comecei, em 2013, a pesquisar as cartas e o contexto de fundação do MAM-SP, e me chamou atenção a proximidade de Rockefeller, um político e agente cultural americano, com o projeto do museu e seu interesse no alinhamento da arte moderna brasileira com os padrões norte-americanos. Depois de alguns anos, encontrei os relatos de vigilância e guerra feitos por ele ao presidente dos EUA no mesmo período. Então, o vídeo veio da ideia de fazer uma espécie de terceiro texto, um contracatálogo da exposição inaugural do MAM, que misturasse suas cartas sobre cultura e arte com os relatos a respeito da situação política e econômica do Brasil. O vídeo confronta forma estética, política e ideologia, questionando a ideia de modernização e sua relação com a colonização.
Um dos principais elementos do meu trabalho, a apropriação e edição de imagens, vídeos e fotos, é um procedimento que permite deslocar as coisas no tempo e no espaço. Esse deslocamento faz com que o objeto, a imagem, o texto possa ter um novo significado no momento em que é usado. Retirar uma coisa de um contexto e colocar em outro abre uma nova teia de relações possíveis, antes impensadas. É um exercício de ressignificação, de imaginação. Desviar a coisa do seu significado natural, normalizado, faz com que possamos imaginar outras coisas a partir daquilo que é apropriado. Subverte-se, assim, o sentido comum, transformando-o.
Em uma perspectiva crítica, encaro a história como o tempo contido nas coisas e também como forma de repensarmos o que ocorre no presente. As coisas que nos rodeiam são uma série de transformações que, acumuladas, formam aquilo que a vemos. Uma cadeira já foi uma chapa de madeira, que já foi árvore, que já foi terra; então, esses tempos estão contidos nas coisas. Evocar essa história nos permite pensar em outras formas de nos posicionarmos no presente. O modo como contamos nossa história pode ser uma forma de poder, de legitimação, de condicionamento, mas também de transformação, de invenção, de ruptura.Do figurativismo ao abstracionismo
2017 | Vídeo, 6’14’’
A obra explora a relação entre arte e política através da investigação da dinâmica entre institucionalização da arte moderna brasileira e passado colonial. Baseado em imagens das obras que foram exibidas na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1949, revisita o papel do abstracionismo durante a Guerra Fria como veículo de disputa política e ideológica. Combinando as cartas ao MAM-SP com relatórios de espionagem sobre a América Latina – ambos feitos por Nelson Rockefeller – e imagens de obras da primeira exposição do museu, explora como a modernização pode ser um mecanismo de conservação de relações de subordinação e dependência.