9.10.2019—2.2.2020
SESC 24 DE MAIO,
SÃO PAULO PT EN

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Clara Ianni

Clara Ianni

1987 | São Paulo-SP, Brasil | Vive em São Paulo-SP

SOBRE | DEPOIMENTO

É artista visual, bacharel em artes visuais pela Universidade de São Paulo (2010) e mestre em visual and media anthropology pela Freie Universität, Berlim, Alemanha (2013). Em seu trabalho, investiga as relações entre arte, política e ideologia, e suas implicações históricas, com frequentes reflexões sobre as contradições do processo de modernização brasileiro. Transitando entre vídeo, instalação, objeto e site-specific, questiona os discursos históricos hegemônicos, explorando suas zonas de invisibilidade. Participou das bienais de Jacarta (2015), São Paulo (2014), e Istambul (2011), além das exposições Utopia/Distopia, MAAT, Lisboa (2017); Talking to Action, LA/LA, EUA (2017); e do 33º Panorama da Arte Brasileira, MAM, São Paulo, (2013), entre outras.


O vídeo Do Figurativismo ao Abstracionismo (2017), mostrado no 33º Panorama da arte Brasileira, no MAM-SP, é fruto de um processo de pesquisa iniciado nos arquivos da Bienal, que tem os registros do Museu de Arte Moderna de SP. Comecei, em 2013, a pesquisar as cartas e o contexto de fundação do MAM-SP, e me chamou atenção a proximidade de Rockefeller, um político e agente cultural americano, com o projeto do museu e seu interesse no alinhamento da arte moderna brasileira com os padrões norte-americanos. Depois de alguns anos, encontrei os relatos de vigilância e guerra feitos por ele ao presidente dos EUA no mesmo período. Então, o vídeo veio da ideia de fazer uma espécie de terceiro texto, um contracatálogo da exposição inaugural do MAM, que misturasse suas cartas sobre cultura e arte com os relatos a respeito da situação política e econômica do Brasil. O vídeo confronta forma estética, política e ideologia, questionando a ideia de modernização e sua relação com a colonização.

Um dos principais elementos do meu trabalho, a apropriação e edição de imagens, vídeos e fotos, é um procedimento que permite deslocar as coisas no tempo e no espaço. Esse deslocamento faz com que o objeto, a imagem, o texto possa ter um novo significado no momento em que é usado. Retirar uma coisa de um contexto e colocar em outro abre uma nova teia de relações possíveis, antes impensadas. É um exercício de ressignificação, de imaginação. Desviar a coisa do seu significado natural, normalizado, faz com que possamos imaginar outras coisas a partir daquilo que é apropriado. Subverte-se, assim, o sentido comum, transformando-o.  

Em uma perspectiva crítica, encaro a história como o tempo contido nas coisas e também como forma de repensarmos o que ocorre no presente. As coisas que nos rodeiam são uma série de transformações que, acumuladas, formam aquilo que a vemos. Uma cadeira já foi uma chapa de madeira, que já foi árvore, que já foi terra; então, esses tempos estão contidos nas coisas. Evocar essa história nos permite pensar em outras formas de nos posicionarmos no presente. O modo como contamos nossa história pode ser uma forma de poder, de legitimação, de condicionamento, mas também de transformação, de invenção, de ruptura.

Do figurativismo ao abstracionismo

Do figurativismo ao abstracionismo

2017 | Vídeo, 6’14’’

 

A obra explora a relação entre arte e política através da investigação da dinâmica entre institucionalização da arte moderna brasileira e passado colonial. Baseado em imagens das obras que foram exibidas na exposição inaugural do Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 1949, revisita o papel do abstracionismo durante a Guerra Fria como veículo de disputa política e ideológica. Combinando as cartas ao MAM-SP com relatórios de espionagem sobre a América Latina – ambos feitos por Nelson Rockefeller – e imagens de obras da primeira exposição do museu, explora como a modernização pode ser um mecanismo de conservação de relações de subordinação e dependência.

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