André Griffo
1979 | Barra Mansa-RJ, Brasil | Vive no Rio de Janeiro-RJ, Brasil
SOBRE | DEPOIMENTO
É artista. Formou-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Santa Úrsula (2004) e dedica-se integralmente às artes desde 2009. Trabalha com pintura, instalação e desenho, explorando fissuras na trama que constitui a sociedade brasileira. Para isso, mobiliza com frequência referências históricas e iconográficas do passado recente e remoto do país. Dentre as exposições individuais, destacam-se Objetos sobre Arquitetura Gasta, Centro Cultural São Paulo (2017); Intervenções Pendentes em Estruturas Mistas, Palácio das Artes, Belo Horizonte (2015); e Commando, pelo edital de ocupação da Galeria de Arte Fernanda Perracini Milani, Prefeitura de Jundiaí, São Paulo (2015). Exposições coletivas incluem Ao Amor do Público I – Doações da ArtRio (2012–2015); MinC/Funarte, MAR, Rio de Janeiro, (2014); e Instabilidade Estáve, Paço das Artes, São Paulo (2014).
Para mim, que sou formado em Arquitetura e Urbanismo, entender a arquitetura através da ruína é uma maneira de inverter o processo do ofício do arquiteto de projetar, edificar e habitar. Tal inversão é o princípio para construção de outras poéticas que tenham a arquitetura como base. Os interiores em ruínas que me interessam são aqueles que não oferecem respostas imediatas sobre como foram usados no passado. Essa imprecisão quanto à função os tornam espaços propícios para serem ocupados de diversas maneiras.
Abordar, assim, rupturas e permanências na formação da história brasileira é um mote conceitual importante na minha prática artística, como nas obras Percorrer Tempos e Ver as Mesmas Coisas e Uma cor para cada erro cometido (ambas de 2017). O uso de referências históricas é uma forma de aproximar passado e presente, incitar confrontos e comparações e, sobretudo, de me posicionar sobre valores historicamente consolidados na sociedade brasileira. As imagens que relaciono a esses fatos são resultados de uma pesquisa realizada ao percorrer instituições centenárias, cultos religiosos, resíduos em espaços urbanos, entre outros. Quanto ao processo, a fase de captação de imagens tem uma dinâmica documental; depois, a experiência artística é consolidada com a pintura, onde há a manipulação de tais “documentos” – entre os quais fotografias, pinturas, desenhos e elementos arquitetônicos.
Pensando também a relação do suporte pintura em mostras como a 21ª Bienal, em alguns casos há a necessidade de se trabalhar em uma escala menor, pedir um olhar distante e próximo, mesmo que seja em uma tela de grande formato, para que a construção de uma narrativa se concretize. Um exemplo desse procedimento pode ser observado na obra O Golpe, a Prisão e Outras Manobras Incompatíveis com a Democracia (2018), onde foi necessário representar detalhadamente a cena do último discurso do Presidente Lula antes de sua prisão para que a imagem não perdesse a importância simbólica que carrega.
O golpe, a prisão e outras manobras incompatíveis com a democracia
2018 | Óleo sobre tela
A obra figura o momento do discurso do ex-presidente Lula antes de sua prisão, em 2018, no palanque montado no pátio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, na cidade de São Bernardo do Campo, espaço emblemático das lutas pelo retorno da democracia no Brasil ao final do regime militar. Enquadrada por um televisor, a imagem coloca em evidência as instâncias de mediação entre o público e o acontecimento político tematizado. Assim, a pintura mobiliza o gênero histórico em tempos de fake news, de conflitos narrativos, e de disputa por hegemonia entre redes de mídia social e veículos tradicionais de telecomunicação.
Percorrer tempos e ver as mesmas coisas
2017 | Óleo sobre tela
As imagens presentes no trabalho fazem parte de pesquisa iconográfica realizada pelo artista acerca dos períodos colonial e imperial brasileiros em fotografias, pinturas, desenhos e registros arquitetônicos. Os personagens dessas imagens – o patriarca, a esposa, os filhos, os escravos, o filho bastardo, os representantes da igreja e os políticos – são referências para narrativas que, além de expor a estrutura social do Brasil no passado, iluminam as desigualdades sociais do presente e testemunham a imutabilidade do estado de coisas no país. A obra é parte da série de título homônimo.
Uma cor para cada erro cometido
2017 | Óleo sobre tela
A obra integra a série Percorrer Tempos e Ver as Mesmas Coisas, na qual o artista parte de pesquisa iconográfica acerca do Brasil Colônia e Império, investigando a fotografia, a arquitetura e as artes desse momento histórico, levando para ambientes privados o imaginário de uma casa-grande decadente, porém permanente. Explora, assim, a resiliência viciosa de uma estrutura social que sobrevive à evolução histórica.