Brett Graham
1967 | Otahuhu, Nova Zelândia | Vive em Auckland, Nova Zelândia
SOBRE | DEPOIMENTO
É artista. Realiza esculturas e instalações de grandes proporções que exploram a história, a política e a filosofia indígenas. Concebe sua ancestralidade Maori como uma identidade Pasifika/Moana afiliada a uma rede global de povos não-ocidentais. É bacharel em artes pela Universidade de Auckland (1988), onde retorna entre 2001 e 2005 para realizar seu doutorado na mesma área, tendo, em 1991, concluído mestrado na Universidade do Havaí. Participou das bienais de Honolulu (2017), Sidney (2010) e Veneza (2007). Entre as exposições individuais, contam Monument, Two Room Gallery, Auckland (2018); Properties of Peace and Evil, Bartley and Company Art, Wellington, Nova Zelândia (2017); e Brett Graham, Fehily Contemporary, Melbourne, Austrália (2016).
No meu processo criativo, o modo como a história é “lembrada” sempre me intrigou. Em meus últimos trabalhos, examinei como a cultura colonial dominante escolheu transformar em memória acontecimentos históricos particulares por meio de relatos, diálogos e documentos desses acontecimentos, no sentido de justificar a repressão à cultura indígena.
As duas colunas esculpidas, que são Monumentos às Propriedades da Paz ou do Mal, são respostas a dois obeliscos erigidos em uma cidade em Aotearoa, na Nova Zelândia, para comemorar algo que é, por um lado, descrito como uma “batalha” e, por outro, como uma matança de pessoas inocentes. Ao recriar em uma galeria os memoriais originais que foram destruídos, o trabalho oferece ao público uma oportunidade de revisitar essa história.
As duas colunas de madeira são feitas de pranchas finas que revelam a fragilidade do lado da história que se perdeu. Segundo o discurso dominante, as pessoas que foram assassinadas eram na verdade os agressores, e elas ocupavam uma posição fortificada que precisava ser derrotada, quando, na verdade, viviam em cabanas abertas de madeira, que eram vulneráveis a ataques. As pranchas finas de madeira estão arranjadas em “v” e em ”v” invertido, em referência à iconografia indígena, que alude às duas respostas com as quais a humanidade se confronta diante da diferença, abraçar ou repelir, portanto, ”propriedades da paz ou do mal”.
Em se tratando de oferecer um espaço diferente para rever a história, a arte indígena dá voz a uma oportunidade de oferecer perspectivas “alter-nativas” da história, seja subvertendo as metanarrativas dominantes, seja simplesmente pelo ato de lembrar histórias convenientemente esquecidas. Isso porque essas perspectivas contradizem as mitologias fundadoras da cultura dominante e muitas vezes questionam a legitimidade de sua ocupação. Em Aotearoa, a cultura dominante esqueceu que eles também foram perpetuadores da violência. Essa amnésia levou à negação de que atos de violência extrema nas mãos da maioria branca, como os assassinatos recentes na Mesquita de Christchurch, sequer eram possíveis de ocorrer.
Monument to the Property of Peace and Monument to the Property of Evil
2017 | Instalação composta de madeira e metal
A obra remete ao Pai Mārire, movimento sincrético entre a religião tradicional Maori e o cristianismo, surgido na Nova Zelândia no final do século XIX e que teve papel importante na resistência dos povos nativos frente ao invasores europeus. As duas torres que compõem a instalação são reminiscências dos obeliscos erguidos em Petane e Ōmarunui em 1916 pelos veteranos da "guerra de um dia". Revestidos de madeira, lembrando as casas do período, os monumentos à paz e ao mal são propositalmente semelhantes, refletindo como as dicotomias frequentemente parecem as mesmas dependendo da perspectiva de quem emite o juízo de valor.