Hrair Sarkissian
1973 | Damasco, Síria | Vive em Londres, Reino Unido
SOBRE | DEPOIMENTO
Fotógrafo. Formado em fotografia pela Gerrit Rietveld Academie, em Amsterdã. Seu trabalho busca contar histórias invisíveis ou inacessíveis para as narrativas oficiais. Participou das bienais de Sharjah (2019), Bamako (2015) e Veneza (2015), e teve seu trabalho exposto, em mostras individuais e coletivas, em instituições dos Estados Unidos, Líbano, Grécia, Espanha, entre outros países.
A morte é algo que todos tememos, mas que todos teremos que enfrentar em algum momento. A morte é recorrente em nossa vida e em nossa mente: não podemos evitá-la, nem escapar do fato de que um dia vamos nos encontrar face a face; a morte é nossa sombra, nossa companheira inevitável.
No meu trabalho, o modo como associo a fotografia à morte é através da memória. A maior parte do meu trabalho tem uma narrativa histórica – algo que aconteceu no passado ou que desapareceu nas dobras do presente. Creio que o meio da fotografia é capaz de trazer essas narrativas de volta à vida, de nos fazer reviver essas histórias e de nos fazer lembrar.
Um dos meus principais interesses é fotografar execuções em praça pública. O ato da execução pública na região da Síria foi iniciado pelos otomanos durante a ocupação de 500 anos atrás, e foi herdado posteriormente pela ocupação francesa e pelos governos sírios seguintes.
Antigamente, as cidades tinham uma única praça pública central, onde os pronunciamentos oficiais eram feitos ao público, e a execução de criminosos fazia parte desses pronunciamentos feitos pelo governo. Os governos que se sucederam na Síria moderna usaram exatamente essas mesmas praças até o final dos anos 1980, especialmente em Damasco, onde o índice de criminalidade realmente aumentou, e o governo começou a usar as praças mais próximas das cenas dos crimes, devido à alta criminalidade.
Todas essas fotografias foram feitas ao amanhecer, por volta das 4h30, que é, a princípio, a hora em que eles montavam a plataforma e realizavam as execuções por linchamento, deixando os corpos enforcados até às 9h, para que as pessoas não conseguissem evitar de encontrá-los no caminho para o trabalho etc. Essas fotografias das praças, se você não lê o título do trabalho, você as tomará por cartões postais comuns, mas assim que você lê Execution Squares, sua percepção se altera imediata e completamente. A primeira coisa que o espectador vai fazer é começar a procurar pelos corpos das pessoas executadas; nesse ponto, seus olhos mudam o foco em busca desses corpos e, subitamente, essas praças e seus arredores se tornam completamente imperceptíveis.
Execution Squares
2008 | Série de 14 fotografias
A série mostra praças de execução pública em três cidades sírias: Alepo, Lataquia e Damasco. As fotos foram tiradas no começo da manhã, horário em que as execuções costumam acontecer, e revelam um frágil paradoxo existente entre os espaços silenciosos, pacíficos e perenes, e a turbulência das realidades políticas e sociais que os habitam e que são eclipsadas por eles. As fotografias denunciam, assim, a presença contínua e oculta de cadáveres enforcados, ao mesmo tempo que realçam e fixam na memória a evidência de que, no momento, não há morte na praça.