Marton Robinson
1979 | San José, Costa Rica | Vive entre San José e Los Angeles, EUA
SOBRE | DEPOIMENTO
Artista visual. Formado em artes visuais e comunicação pela Universidade Nacional da Costa Rica e mestre em Artes Visuais pela University of Southern California (EUA). Seu trabalho explora múltiplas linguagens para investigar o senso comum e o discurso crítico que especifica a cultura negra latino-americana no contexto mais amplo da diáspora africana. Expôs em individual no espaço TEOR/éTica (San José), e em coletivas e festivais de filmes no Canadá, Costa Rica, Estados Unidos, França e México.
Em um contexto cotidiano, exploro formas em que os estereótipos e os meios de comunicação definiram minha percepção da negritude e da identidade nacional. Minha realidade foi esboçada a partir da alteridade e negada ao mesmo tempo pela história do meu país. Não existe uma verdadeira expressão da história e da cultura do descendente “afro” na Costa Rica, os conteúdos institucionais nunca se aproximaram de definir minha negritude para além da celebração do “Dia do Negro”.
A sátira e o simbolismo são empregados para a encenação exagerada de autodepreciações e ironias, com a intenção de reconfigurar o poder hierárquico, as concepções coloniais e ideologias eurocêntricas, buscando subverter sistemas de crenças sociais presentes na psique nacional costarriquenha. Nesse sentido, questiono a história e os meios de comunicação na configuração de um imaginário nacional a partir da negritude costarriquenha.
Busco romper a noção dominante de que “o outro” é uma entidade/identidade estranha. Creio ser útil situar meu trabalho dentro da teoria conceituaI e visual que chamo de Tecnologías Deculoniales , uma pesquisa contínua que visa ampliar a análise das políticas institucionais e as práticas sistêmicas de representação e da globalização tecnológica. Exploro meios de produção artística e de compartilhamento de conhecimentos com colegas artistas, com olhar crítico sobre as noções eurocêntricas e institucionalizadas de estética, lugar e raça.
Além disso, faço uma exploração do deslocamento geopolítico dos corpos humanos – contemporâneos e históricos – em que o recém-chegado é confrontado com uma normalização ideológica por parte de seu novo anfitrião, que considera “o outro” como alienígena/estrangeiro. Sou atraído pelas percepções construídas de um novo “lar”. A pessoa refugiada forma uma noção de pertencimento e identidade. Usando imagens e objetos modernos e históricos da cultura popular, minha obra explora o papel crítico que os significantes culturais podem desempenhar na formação de uma identidade nacional, especificamente a autoidentidade do afro-latino historicamente deslocado.
As imagens usadas na instalação No le Digas a Mi Mano Derecha lo que Hace la Izquierda são apresentadas como múltiplas camadas – oferecendo perspectivas múltiplas – de configurações sociais: a primeira, a ideia de que a Costa Rica omitiu de sua história e de sua identidade nacional a ideia de negritude nos livros e na música. Seguindo essa investigação de raça e classe, a segunda camada aborda a interação das imagens relacionadas às teorias e à poesia. A ironia é de alguma forma usada na abordagem desses assuntos. Interesso-me pela investigação de conceitos como a ideia da máscara como forma de zombaria através da difamação, associada a aspectos pós-coloniais de raça e nacionalidade. Aqui, a aplicação (i)material de máscaras e/ou o mascaramento do corpo evoca problemáticas históricas que incluem, mas não se limitam, a rituais sociais de difamação, práticas etnológicas e assimilação.
Meu trabalho fornece uma contra narrativa histórica, explorando a experiência subjetiva do colonialismo e da dominação em relação à máscara entre colônias. A obra enfatiza meu próprio corpo, o corpo negro, como plataforma para a representação e para o diálogo.
No le digas a mi mano derecha lo que hace la izquierda
2019 | Performance, vídeo, cinema e mídia digital
Palmer desenha com giz, em uma parede negra, um mural composto por diversos elementos visuais da cultura afrodescendente. Uma vez pronto o mural, seus traços precisos e sua composição complexa são apagadas pouco a pouco pelo corpo do artista, numa performance que dura até a exaustão provocada pelo ato de se esfregar na parede. O que fica dessas duas ações é uma parede borrada e o registro em vídeo do processo, em que construir e desconstruir se tornam movimentos contínuos, complementares e, mais que tudo, voluntariosos e inapagáveis.