9.10.2019—2.2.2020
SESC 24 DE MAIO,
SÃO PAULO PT EN

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Paulo Mendel & Vitor Grunvald

Paulo Mendel & Vitor Grunvald

Brasil |

SOBRE | DEPOIMENTO

Paulo Mendel

Rio de Janeiro-RJ, 1979

Vive em São Paulo-SP

 

É cineasta. Estudou direção teatral na UFRJ e cinema na UNESA, Rio de Janeiro. Explora possibilidades audiovisuais em diferentes meios, com ênfase na interface entre arte e vídeo, e videoarte e documentário. Trabalhou em longas, curtas, animações e filmes de arte com artistas como Lia Chaia, Fabiano Gonper e Brígida Baltar. Seus trabalhos híbridos já foram apresentados em grandes festivais, como a Quadrienal de Praga, e integram coleções como a do Circuito Videodanza Mercosur e do Centre de vidéo-danse de Bourgogne.

Vitor Grunvald

Belém-PA, Brasil, 1983

Vive em Porto Alegre-RS

 

É artista visual, cineasta e professor universitário. É formado em ciências sociais pela PUC-RJ, com mestrado em antropologia pelo Museu Nacional da UFRJ e doutorado na mesma área pela USP. É pesquisador do Grupo de Antropologia Visual (GRAVI) e Núcleo de Antropologia, Performance e Drama (NAPEDRA), ambos do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia (LISA) da USP. Explora questões como a apropriação de metodologias e práticas artísticas para o fazer antropológico, experimentações com a imaginação etnográfica e o estudo da cultura visual, abrangendo os usos e processos adiantados pelas novas tecnologias da informação, comunicação e mídias digitais.



Nosso envolvimento com a Família Stronger começou em 2016. Já conhecia o Elvis há um tempo, do ativismo, e ele me procurou porque a Família Stronger faria dez anos e queria um vídeo. Começamos a filmar na mesma semana e logo percebemos que um longa-metragem apenas não daria conta da riqueza do universo da Família. Aí, veio a ideia de um projeto de narrativa transmídia. Iniciamos o processo de criação e programação da fase beta do webdocumentário, que inclui 14 vídeo-retratos, fotografias, redes sociais, em um diagrama de parentesco interativo. No ano passado, criamos a videoinstalação Domingo, apresentada na 21ª Bienal, e que foi feita com material de apenas um dia dos mais de três anos em que acompanhamos a Família.

Presente neste trabalho, além das imagens do cotidiano da família, também temos algumas imagens de um protesto levado a cabo pela família após o golpe sofrido por Dilma Rousseff. O motivo disso é que algumas dessas famílias LGBT, como a Stronger, passaram, nos últimos anos, por um intenso processo de politização que, no geral, foi marcado por situações de extrema violência, inclusive policial. Então, é inevitável que, ao acompanhar o cotidiano da Família, nós também fôssemos levados ao cenário de manifestações políticas que vivemos no Brasil. Ficou claro para nós que a dimensão micropolítica, do cotidiano, e a macropolítica estão inteiramente relacionadas.

Por isso, observar esse trabalho no contexto da 21ª Bienal é importante, levando-se em consideração o fato de que, nas últimas décadas, diversos grupos de resistência, dos movimentos antiglobalização aos movimentos ditos identitários, têm usado a arte para avançar e disputar pautas políticas. A aproximação entre arte e política, que sempre existiu, tem se intensificado e assumido formas bastante particulares. E, cada vez mais, assim como artistas vão para rua para produzir suas obras, ativistas entram nos espaços institucionais da arte, transformando-os em locais de luta.


Domingo

Domingo

2018 | Vídeo, 25’30’’

 

Resultado do projeto desenvolvido por Mendel e Grunvald há mais de dois anos junto à Stronger, coletivo LGBTQIA+ periférico da cidade de São Paulo. O Projeto Família Strongeré um trabalho de investigação documental de narrativa transmídia sobre esse coletivo que, tal como outras famílias LGBTs, constrói formas de parentesco alternativas quando vistas a partir de concepções hegemônicas de família fundamentalmente marcadas pela ideia de consanguinidade. No lugar do sangue como símbolo que estrutura as relações, esses grupos formam comunidades imaginadas e coalizões que são, ao mesmo tempo, afetivas e políticas. A obra proposta articula imagens e sons de um dia de filmagem. Nele se entrelaçam uma reunião de família em forma de almoço, chamada de Stronger House, com imagens insurgentes de uma manifestação de rua que marcou o conturbado cenário político contemporâneo no Brasil, na semana da deposição da presidente Dilma Rousseff em 2016.

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