Luiz de Abreu
1963 | Araguari-MG, Brasil | Vive em Salvador-BA, Brasil
SOBRE | DEPOIMENTO
Bailarino e performer, travou seu primeiro contato com a dança nos terreiros de Umbanda. Formado em dança na Faculdade Angel Vianna, no Rio de Janeiro e com mestrado pela Universidade Federal de Uberlândia, trabalhou em diferentes companhias de Belo Horizonte e, em meados dos anos 1990, iniciou carreira solo em São Paulo. Seu trabalho investiga os estereótipos relacionados ao corpo negro. Já se apresentou em países como Alemanha, França, Portugal, Croácia, Cuba, Espanha, Inglaterra, Mali e em diferentes festivais de dança contemporânea do Brasil. Participou da Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2009), e mostrou o solo Travesti na mostra Sesc de Dança, São Paulo (2001). Sua peça O samba do crioulo doido integra o acervo de videodança do Centre Georges Pompidou, em Paris.
Minhas primeiras noções em dança foram nos terreiros de umbanda, nos anos 1960. No final dos anos 1970, começou a minha formação em dança. Nos meados dos anos 1980, dancei em diversas companhias profissionais em Belo Horizonte e em São Paulo. Nos meados dos anos 1990, comecei a construir trabalhos solo onde o corpo negro estava no centro do discurso. A partir daí minha dança, além de ser uma investigação estética, é principalmente uma ação política.
O protagonismo da presença do corpo negro na sociedade brasileira, uma questão que se encontra no centro da minha obra, desde o momento em que comecei a trabalhar até os dias atuais, pode ser separado em três períodos significativos: dos anos 1970 aos 1990, o país ainda possuía uma mentalidade colonial, onde temas como democracia racial, racismo estrutural e a própria invisibilidade do corpo negro na dança eram a tônica. Era muito comum ouvir coisas como “A minha babá é negra, mas é como se ela fosse da família”. Esse cenário se altera entre os anos de 2003 a 2016, onde uma mentalidade “descolonial” se instaura, buscando desvendar o racismo estrutural, o mito da democracia racial. Políticas como as cotas e o maior ingresso de negros na universidade possuem um papel central nisso. Porém, de 2016 para cá, aparentemente, estamos de volta na colônia, com diversos casos de sequestros de capital simbólico negro, o genocídio da população negra cada vez mais crescentes. Parece que o Brasil quer retornar à colônia, porém ele precisa saber que ela não existe mais.
Pensando nesses processos, os trabalhos de dança apresentados aqui têm o corpo negro como campo de pesquisa e como a própria obra de arte. Reuni esses vídeos inéditos para a 21ª Bienal na tentativa de fazer uma releitura dos contextos acerca do corpo negro nas últimas três décadas. Quero possibilitar um encontro entre gerações, de um artista criando desde o final dos anos 1970 com artistas negros contemporâneos. É importante vivificar a memória negra brasileira num momento de processo de apagamento da história negra brasileira.Instalação histórica
1995-2009 | Instalação com sete vídeos
Os vídeos Máquina de Desbastar Gente (2006), O Samba do Crioulo Doido (2004), Autópsia (1997), História Infantil (1995), Black Fashion (2006), Bahia (2009) e Travesti (2001) compõem a instalação retrospectiva da obra do ator, bailarino e coreógrafo, propondo uma revisitação a algumas das obras emblemáticas de sua trajetória artística.