Erin Coates
1977 | Albany, Austrália | Vive em Perth, Austrália
SOBRE | DEPOIMENTO
Artista visual graduada pela Curtin University (Austrália), com mestrado na University of British Columbia (Canadá). Com uma pesquisa que explora as relações entre corpo e espaço, trabalha com vídeo, escultura, desenho, instalação e com a mescla dessas linguagens. Entre suas principais exposições estão individuais no Museu de Arte Contemporânea de Hiroshima, Japão (2018) e no Perth Institute of Contemporary Arts, Austrália (2014).
Meus dois filmes, Driving to the Center of the Earth (2012) e Driving to the Ends of the Earth, foram feitos usando uma técnica de chroma key para criar a ilusão de dirigir em um território obscuro e incerto. No primeiro filme, estou dirigindo dentro das profundezas da Terra. Esse filme foi feito em uma época em que a Austrália passava por uma febre mineradora, e o país estava obcecado com a exploração mineral, muitas vezes com pouca perspectiva das consequências ambientais ou do inevitável “esgotamento” desse ciclo. Este novo filme mostra meu cachorro e eu dirigindo em meio a diversas catástrofes. Mais uma vez, aparentemente ignoramos os perigos do lado de fora do carro e dirigimos como se a estrada fosse fixa. Driving to the Ends of the Earth dá continuidade ao uso do interior do carro como metáfora da inatividade humana diante de desastres associados às nossas atividades.
O principal motivo do meu interesse na visão cinematográfica do carro em movimento é o fato da cidade onde vivo, Perth, ser muito carrocêntrica, e seu projeto de urbanização baseado no transporte automotivo, de modo que nossa experiência do espaço urbano é fortemente moldada pelo movimento no interior dos carros. As janelas do carro funcionam como telas, através das quais vemos imagens em movimento. Para mim, existe aqui uma relação interessante, também devido à história do cinema e seu uso da projeção de cenários em filmes para criar a ilusão de movimento nas cenas no interior de carros.
Dois dos meus outros interesses são ficção científica e os limites da vida na Terra. A imaginação da ficção científica é um modo de explorar o potencial da vida além do aqui e do agora – os detritos do futuro, as ecologias de outros espaços, a extensão da carne e do espírito humanos. Não creio que a arte deva ficar tentando oferecer soluções, mas ela pode ser uma lente para enxergar mais longe, e a ficção científica oferece meios alternativos para imaginarmos nossa realidade. Ela nos lembra que o caminho em que estamos não é inevitável e que existem trajetos diferentes que os nossos futuros podem seguir.
Driving to the Ends of the Earth
2016 | Vídeo, 11’22’’
A artista e seu cão fazem uma longa viagem de carro. Ao volante, ela mastiga linguiças e verduras, rega as plantas do banco traseiro, conversa por mensagem de texto no celular e de vez em quando faz carinho no vira-lata que, sentado no banco do passageiro, observa com interesse os rituais de sobrevivência e entretenimento da humana. Ambos parecem ignorar a sucessão de cenários catastróficos que o chroma keynos mostra pelos vidros do carro. Com duas câmeras estáticas, que se alternam mostrando o rosto e a nuca desses dois personagens, e efeitos sonoros que elevam as mastigações e as coceiras ao mesmo volume dos incêndios e meteoros do lado de fora, o vídeo nos mostra essa viagem fictícia e cômica rumo a um fim de mundo imprevisível.