George Drivas
1969 | Atenas, Grécia | Vive em Atenas
SOBRE | DEPOIMENTO
Artista
visual. É formado em ciência política pela Universidade de Atenas e possui
mestrado em film and media studies na Freie Universität, em Berlim. Suas obras exploram as
relações entre movimento e imobilidade possíveis no vídeo, linguagem
predominante no trabalho do artista. Entre suas principais exposições estão
individuais no Museu Nacional de Arte Contemporânea (EMST) de Atenas (2009 e 2018)
e na Galleria Nazionale d’Arte Moderna e Contemporanea, em Roma (2017).
Representou a Grécia na 57ª Bienal de Veneza (2017)
A inspiração para Laboratory of Dilemmas veio da peça de teatro de Ésquilo chamada “As suplicantes” (Iketides). As suplicantes da tragédia de Ésquilo fogem do Egito e chegam em Argos, na Grécia, e pedem asilo ao rei da cidade. Este, então, se vê diante de um dilema: ajudando-as, ele corre o risco de começar uma guerra com os egípcios, que virão reivindicá-las; mas, se ele não ajudá-las, transgride as leis sagradas dos deuses, que exigem a proteção a todos os suplicantes. O dilema do rei levanta a questão de como tomamos decisões baseadas no pragmatismo ou no idealismo, de como lidamos com o desconhecido, com o diferente, o estranho e dos riscos que assumimos ao aceitar e proteger. A obra lida com a angústia, a perplexidade e a confusão de indivíduos e grupos sociais que se veem obrigados a lidar com temas similares.
O dilema da tragédia é recontextualizado e apresentado com base em um experimento biológico. No último estágio do experimento, um grupo de células diferente daquele que estava sendo pesquisado surge inexplicavelmente. A equipe de pesquisadores é pressionada para permitir que essas novas células se organizem dentro da cultura existente no experimento, pois, do contrário, correm o risco de se extinguir. No entanto, ao permitir que isso aconteça a sobrevivência da cultura existente e bem-sucedida é ameaçada. Ao fornecer um novo contexto ao dilema da antiga tragédia, escrita 2500 anos atrás, minha intenção foi abri-la a uma interpretação mais ampla. Ela é histórica, e ao mesmo tempo é e continuará sendo sempre contemporânea. Não se trata de uma história aleatória mencionada em uma tragédia antiga. Ela expressa uma questão crucial para as sociedades de hoje em dia, para a ciência de hoje em dia e, sobretudo, a respeito de nós mesmos.
Minha obra original, apresentada no pavilhão grego da Bienal de Veneza de 2017, era uma instalação com narrativa, como um labirinto por onde se entrava, com múltiplos canais de som e vídeo. Ela se concentrava no dilema da antiga tragédia, por meio de excertos de um velho documentário sobre um experimento biológico. A história era apresentada em partes, por diversas fontes de vídeo e de som, no interior de um labirinto, que era efetivamente uma réplica do velho laboratório do experimento. O visitante podia, quase literalmente, seguir os passos do professor pelo laboratório, podia vê-lo e/ou ouvi-lo, recolher todas as informações fragmentadas sobre a pesquisa e chegar ao ponto de tomar a decisão final. O visitante criava a história inteira mentalmente, após recolher – de modo também físico, percorrendo a instalação –todas as imagens e sons da história do velho experimento.
Laboratory of Dilemmas
2018 | Vídeo, 13’
Ao redor de uma mesa de negócios, homens e mulheres discutem de maneira extremamente formal. Os corpos brancos e rijos, com seus penteados e roupas sob controle, debatem os resultados inesperados de um experimento científico: ao tentar criar células imunes ao vírus da hepatite, inesperadamente os cientistas criaram um novo tipo de célula, cuja função ainda é desconhecida. O caráter técnico e formal da discussão esconde a angústia de uma questão ética fundamental: o dilema entre acolher o estrangeiro (e arriscar a disrupção da ordem conhecida) ou resguardar a integridade do autóctone (sem lhe dar a chance de encontrar uma resposta nova e melhor para seus problemas). O vídeo é baseado na tragédia As suplicantes, de Ésquilo, em que o rei de Argos precisa decidir entre acolher refugiadas egípcias, causando conflitos internos e uma guerra com o Egito, ou recusar a ajuda, o que irritaria os deuses ao quebrar a lei sagrada que exige o acolhimento de suplicantes.