Jonathas de Andrade
1982 | Maceió-AL, Brasil | Vive entre Recife-PE e São Paulo-SP, Brasil
SOBRE | DEPOIMENTO
Artista visual. Formado em comunicação social pela UFPE, utiliza a fotografia, a instalação e o vídeo para percorrer a memória coletiva e a história, fazendo uso de estratégias que misturam ficção e realidade. Trabalha com temas que tocam as relações de poder, raça, classe e a exploração da força de trabalho no Brasil. Seus trabalhos foram exibidos na 12ª Bienal de Lyon (2013), na 2ª Trienal do New Museum, Nova York (2012), na 12ª Bienal de Istambul (2011), na 29ª Bienal de São Paulo (2010) e na 7ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre (2009).
Procurando Jesus foi realizado quando estive em Amã, na Jordânia, em 2013, em uma residência na Fundação Darat Al Funun... fiquei lembrando da imagem do Jesus loiro e de olhos azuis que temos no Brasil e no ocidente. Estando ali, é claro que Jesus deveria ser como um daqueles homens que eu observava. Existia algo de subversivo em pensar em Jesus como alguém do povo, imaginar sua personalidade, seus trejeitos, o tom da sua voz. Assim, fotografei 20 homens com o celular na rua e instaurei uma votação aberta, em que ofereci tâmaras ao público que, com o caroço, poderia votar na próxima imagem possível de Jesus.
A partir dessa premissa, comecei a pensar nos vínculos entre o Oriente Médio e o contexto do Brasil e da América Latina; então, cheguei à conclusão de que esse projeto fala sobre julgamento e de como a estética eurocentrista é imposta, impostora e opressora. O ideal da beleza branca, loira e de olhos azuis é uma distorção que atinge tanto o Brasil, latino, como o Oriente Médio. O olhar de desejo sobre os corpos negros e mestiços ganha contornos fetichistas e, ao procurar Jesus, o olhar que busca cai nessa mesma armadilha: o que se lhe oferece é a experiência e o desconforto da ficção desse olhar.
Essa relação do olhar se manifesta no meu trabalho a partir do modo como a presença do desejo é uma ferramenta que desestabiliza a leitura das relações e suas forças, em especial quando se trata de sociedades machistas como a brasileira, latina, e a muçulmana, e também a questão do corpo masculino – muito presente em meu trabalho – nessa relação. Um olhar como esse gera uma série de desconfortos que são reveladores das forças sociais. Envolve o meu lugar de artista como mediador e tensionador de signos e o lugar do próprio público, desconfortável ou não em seu julgamento.
Procurando Jesus
2013 | Instalação com 20 impressões envolvidas m chapa de cobre, 16 placas de acrílico, bandeja, tâmaras e caixa de cedro-rosa
Caminhando por Amã, na Jordânia, o artista fotografou rostos que poderiam ser de Jesus, figura central do cristianismo e um dos principais profetas do islamismo. A visão de homens comuns daquela região é um contraponto à tradição europeia de representação de um Jesus loiro e de olhos azuis. Ao visitante da instalação é oferecida uma tâmara, cujo caroço pode ser usado para votar em qual dos 20 rostos mais se parece, em sua opinião, com o daquele personagem mítico. Na saída do pequeno templo montado para a contemplação das fotos, o visitante se depara com comentários de pessoas de Amã sobre qual imagem é mais representativa de Jesus.