9.10.2019—2.2.2020
SESC 24 DE MAIO,
SÃO PAULO PT EN

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Claudia Martínez Garay

Claudia Martínez Garay

1983 | Ayacucho, Peru | Vive em Amsterdã, Países Baixos

SOBRE | DEPOIMENTO

É artista. Formou-se em artes pela Pontifícia Universidade Católica do Peru (2007), com residências na Cité Internationale des Arts, Paris (2013) e no Rijksakademie van Beeldende Kunsten (2017). Transita por diferentes mídias, com maior destaque para a pintura e a instalação. Seu trabalho lida com a memória social e política do Peru, explorando iconografias de arquivos artísticos oficiais e não-oficiais. Exposições individuais incluem Kachkaniraqkun!/¡Somos aún! /¡We are, still!, Art Basel Miami (2018); I WILL OUTLIVE YOU, Grimm Gallery, Nova York (2018), e Allá en el caserío, acá en el matorral / There in the homestead, here in the thicket, Ginsberg Galería, Lima (2018), entre outras. Entre suas exposições coletivas, contam-se as Bienais de Xangai (2018) e Cuenca (2014), além das trienais do New Museum, Nova York (2018) e de San Juan, Porto Rico (2015).


Nasci na região montanhosa do Peru, mas precisei me mudar de lá quando era muito pequena, porque era uma época em que havia começado a guerra e o terrorismo. Embora as ideias de guerra e conflito sempre estivessem presentes no meu trabalho, as ideias da minha própria identidade, em relação à identidade chola, parda e indígena eram quase sempre descartadas e silenciadas, devido ao classismo e ao racismo da cidade de Lima, tão presentes ainda hoje. Assim, essa parte desconhecida da minha identidade, como pessoa de aparência indígena, fez-me pensar sobre indigenismo, alienação cultural, colonialismo e modernidade, fez-me imaginar e estimular minha prática com o desejo de propor ideias e estéticas descolonialistas, constantemente questionando a mim mesma se isso é possível ou não.

Meu interesse em imagens pré-existentes desse imaginário político se deve ao meu gosto por histórias, em como nos foram contadas histórias, e a história, através desse imaginário. Os pequenos intervalos entre o que sabemos sobre elas e o que acreditamos a partir delas, permitem espaços para a imaginação e a especulação sobre o verdadeiro significado das imagens, algo que jamais poderíamos conhecer plenamente.

Então, penso que ao reler e reaprender, podemos reformular como entendemos o passado. Também há um grande poder e uma responsabilidade no modo como podemos escrever o momento presente, e modificar e transformar a percepção de certas imagens e acontecimentos para a memória e o futuro coletivos.

A instalação que apresento na 21ª Bienal funciona como uma reunião de diferentes culturas e movimentos no tempo e no espaço, antigas e recentes, que se desenvolveram no atual território peruano. Essas diferentes culturas compartilham memórias e ideologias da vida e da morte de um modo metafórico e simbólico. Historicamente, as ideologias nasceram, forçadas e desenvolvidas nessa terra – ideias como sacrifício, modernidade, colonialismo, cristianismo, indigenismo, marxismo, comunismo etc. – todas as quais causaram derramamento de suor e sangue nessa terra. Nesse solo, cresceram e se desenvolveram os frutos que alimentam o povo. A presença espalhada das cerâmicas na instalação funciona como lembrete e sugestão do passado, incompleto e isolado, como nas formas de exposição e na memória colonial presentes nas vitrines dos museus etnográficos.


ÑUQA KAUSAKUSAQ QHEPAYKITAPAS / I WILL OUTLIVE YOU

ÑUQA KAUSAKUSAQ QHEPAYKITAPAS / I WILL OUTLIVE YOU

2017 | Vídeo, 15’17’’

 

O título da obra – grafado em mochica, uma das muitas línguas nativas faladas atualmente no Peru –, pode ser traduzido como “Eu sobreviverei a você”. A civilização moche, famosa pela cerâmica, desenvolveu-se naquele território desde a antiguidade até aproximadamente o século VII d.C., e seu idioma tinha presença importante no Império Inca à época da invasão espanhola. Partindo da crença moche na vida após a morte e de uma figura humana presente em um artefato dessa cultura exposto no Museu Etnológico de Berlim, a artista ficcionaliza uma linha do tempo, que abrange desde sua infância até seu encarceramento simbólico na instituição berlinense.

¡Kachkaniraqkun! / ¡Somos Aún! / ¡We Are, Still!

¡Kachkaniraqkun! / ¡Somos Aún! / ¡We Are, Still!

2018 | Instalação composta de barro cozido, tijolos, metal, ferro, pintura com acrílico e argila em painel

 

A obra é composta por elementos em cerâmica que materializam, em três dimensões, as questões presentes no vídeo da artista ÑUQA KAUSAKUSAQ QHEPAYKITAPAS (eu sobreviverei a você, em tradução livre). Alocadas num espaço branco e neutro, parecem se encontrar num limbo, suspensas no tempo, como que a aguardar a chegada do personagem desenvolvido no vídeo.


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