9.10.2019—2.2.2020
SESC 24 DE MAIO,
SÃO PAULO PT EN

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Emo de Medeiros

Emo de Medeiros

1979 | Paris, França | Vive entre Cotonou, Benim, e Paris

SOBRE | DEPOIMENTO

É artista. Suas esculturas, vídeos, fotografias, performances, músicas, arte têxtil, instalações performativas e pinturas cruzam materiais artesanais tradicionais com tecnologia e novas mídias para explorar conceitos como transculturalidade, interconexão, e a circulação de mitos e mercadorias no mundo globalizado, dentro do que chama de “Contexture”, indagando noções de identidade e de pertencimento no mundo globalizado. Estudou na École Normale Supérieure, Paris, na École Supérieure des Beaux-Arts e no Massachusetts College of Art. Participou das bienais de Marrakesh (2016), Dak’Art (2016 e 2018) e Casablanca (2018), além de expor em instituições como o Palais de Tokyo, Paris (2014 e 2018), Centre Georges Pompidou (2018) e Le Centre Arts et Cultures, Abomey-Calavi (2015).


Chromatics é uma peça ao mesmo tempo poética e política. Poética porque é fundamentalmente feita a partir de dois poemas, criados de maneira similar às pesquisas do Oulipo, movimento literário surgido nos anos 1960, que introduziu a matemática e a aleatoriedade na criação literária. Usei um programa para combinar randomicamente palavras que formassem estrofes compostas por quatro versos feitos com uma única palavra cada, sendo a primeira e a terceira palavras-verso em Move ment I , necessariamente, preto ou branco, e a segunda e a quarta palavras-verso, uma das 200 outras palavras. Em Movement II, o primeiro e o terceiro versos são, alternadamente, preto, azul, vermelho e branco. Chromatics também é uma obra política porque, além do aspecto poético, também é conceitual e pretende ser uma peça radicalmente antirracista, visando destruir as raízes conceituais, linguísticas e simbólicas do racismo.

Como artista, a experiência de estar no entroncamento de diversas diásporas está diretamente associada ao conceito fundamental de todos os meus trabalhos, que é o conceito de "contextualização", a noção de misturar elementos em um contexto particular, de modo mobilizador e polissêmico, em oposição à noção estática de estrutura.

Minha experiência pessoal é muito particular: cresci no Benim, depois vivi na França e nos Estados Unidos, e atualmente divido meu tempo entre o Benim e a França, o que faz de mim ao mesmo tempo um autóctone africano e um membro da diáspora. Quando morei em Salvador durante dois meses em 2019, graças ao prêmio de residência Goethe Institut / Videobrasil que recebi em 2017, eu me referi jocosamente a mim mesmo como um "retornado retornando".

Essa ancestralidade representou e continua representando uma grande perspectiva da minha prática: a simplicidade é uma ilusão. Os agudás, ou famílias com sobrenomes portugueses no Benim, são uma mistura de quatro comunidades diferentes: os traficantes de escravos portugueses e brasileiros; os escravizados brasileiros livres que decidiram voltar à África depois de conquistar a liberdade; os afro-brasileiros expulsos por suspeita de tomarem parte na Revolta dos Malês; e, também, não podemos esquecer, os escravizados desses diferentes grupos no Benim, que adotaram os sobrenomes de seus senhores.


Chromatics Movement I e Movement II

Chromatics Movement I e Movement II

2017-2019 | Instalação composta de vídeo e papel

 

Um software combina aleatoriamente duzentos substantivos mais comuns no idioma inglês compostos por entre três e cinco caracteres, gerando dez mil possíveis pares de palavras. Em seguida, adiciona de maneira randômica as palavras "preto" e "branco", gerando assim oitenta mil parágrafos possíveis. Com esse dispositivo, o artista evidencia mecanismos de racialização subjacentes às lógicas automáticas do mar de algoritmos que mediam relações sociais contemporâneas no universo digital, criando apartheidssubconscientes através da naturalização da linguagem. A obra participa da poética de Medeiros que mobiliza expedientes lúdicos, misturando leveza formal e densidade de conteúdo político.

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