Nidhal Chamekh
1985 | Dahmani, Tunísia | Vive entre Túnis, Túnisia, e Paris, França
SOBRE | DEPOIMENTO
Os distritos populares de Túnis e a perseguição da família militante são pontos de partida para criações de Chamekh, na intersecção entre o biográfico e o político, o vivido e o histórico, o evento e o arquivo. Do desenho à instalação, da fotografia ao vídeo, suas obras dissecam a constituição da identidade contemporânea. Formado na Escola de Belas Artes de Túnis e Universidade Sorbonne, em Paris, teve obras exibidas na 56ª Bienal de Veneza, Itália, na Trienal de Aichi, Japão, na Bienal de Yinchuan, China, na Bienal de Dakar, Senegal, além das exposições Politics Collective (Túnis), no Instituto do Mundo Árabe (Paris), no FM Contemporary Art Centre (Itália), na Art Basel (Suíça), entre outras.
No meu trabalho, o concreto e o arquivo sempre interagem. Passado e presente se entrelaçam, não existe uma ordem cronológica ou linear. Não existe causa nem efeito. Elementos do passado e do presente surgem uns de dentro dos outros, interagem entre si, lançam luz, criam fantasmas... É a mesma constelação; tudo está distribuído no mesmo mapa. Esse mapa é minha folha de papel, onde não existe nenhuma perspectiva, nem unidade espaço-temporal. Tudo se distribui conforme eu me desloco, não há esboço ou objetivo final. Trata-se de uma montagem não linear de imagens—pode-se dizer, uma “bricolagem visual”.
Como qualquer artista, os elementos da minha biografia, vida familiar e experiência de vida perpassam toda minha obra. Mas não me interessam como "objetos" dos meus trabalhos. No entanto, esses elementos intrinsecamente perpassam, e até definem, a minha prática: como o fato de que o biográfico e o político, o vivido e o histórico terem tido o mesmo peso no início da minha vida. A literatura e a ciência sempre me definiram, assim como sempre definiram meus pais. Crescendo em um ambiente deslocado, fragmentado, precisando improvisar e se virar com o que tinha devido à pobreza. Mais tarde, deixando a Tunísia e vivendo fora, vendo o país de longe, sentindo a complexidade da relação e da dominação Norte-Sul, a sobrevivência e a importância do passado e da memória... todos esses elementos constituem meu modo pessoal e específico de desenhar.
A arte é frágil. Sob novas formas, ela experimenta, descarta, parasita e desconstrói o que está estruturado, o que gera consenso ou norma, e a cultura está nisso. A arte talvez tenha tido um grande papel nos contextos árabes. Ela constituiu uma poderosa ferramenta de desconstrução das formas internas e externas de dominação, incluindo a cultural, questionando os termos “Primavera Árabe” ou “Revolução de Jasmim”, assim como outras representações orientalistas distorcidas.
Mas nem sempre é esse o caso, pois, para muitos artistas, sempre foi uma luta desvencilhar-se de estereótipos, sendo um deles o de “artista árabe”.Never Give Up
2017 | Vídeo, 15’
Após o desmantelamento de um acampamento, ordenado pela prefeitura de Pas-de-Calais em março de 2016, um grupo de refugiados se vê forçado a abandonar a comunidade que construiu e inventou. Como um ato de resistência, incendeiam suas moradias improvisadas, antes que a maquinaria pesada venha fazê-lo. Enquanto uma das habitações é consumida pelo fogo e as paredes começam a ruir, uma frase aparece: “Nunca desista”, em um vídeo marcado pelos sons do vento e das chamas, pela fumaça escura e pela presença implícita ou explícita da polícia francesa.
De quoi rêvent les martys II
2012-2013 | Tinta, grafite e transfer sobre papel
O desenho é a base da arte. Há sempre um desenho preliminar à obra, formando uma camada discreta que se esconde atrás da pintura, escultura, vídeo ou instalação sem jamais cair no esquecimento. É na busca dessa ancoragem que se estabelecem os desenhos de Nidhal Chamekh em torno da figura do mártir, construções pictóricas em que sonhos sobre a vida e sonhos sobre a morte parecem se misturar numa única e mesma dimensão.